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domingo, 26 de julho de 2009

Como podemos salvar a África. E ser salvos por ela

O missionário comboniano Alex Zanotelli, que viveu durante muitos anos na África e foi diretor da renomada revista italiana Nigrizia, em artigo para o jornal Liberazione, 19-07-2009, pede uma nova forma de “socorro” para a África.“Depois de haver perdido a batalha econômica, a África perdeu definitivamente a guerra das civilizações? Esta é a grande pergunta. A economia foi vencida, mas a sociedade civil sobreviveu a esta derrota”. É por esta estrada que a África se salvará e salvará também a nós”, afirma. A tradução é de Benno Dischinger.

Eis o texto.

A África esteve no centro das discussões do G8 de Áquila, mas também aqui o continente mais pobre do mundo obteve bem pouco. Eu não teria medo de falar de um grande circunlóquio da parte dos Grandes da Terra em relação à África. Esta África que sofre ao longo dos séculos as conseqüências da marginalização e da opressão: três séculos de escravidão, um século e meio de colonialismo e depois, após uma independência fortemente impregnada pelos laços residuais com as ex-potências coloniais, paga também o neoliberalismo da globalização. É o continente mais pisoteado e mais marginalizado. Paga também a crise ecológica. “A África emite menos gás serra do que qualquer outra parte do mundo, mas é o continente mais ameaçado pelas alterações climáticas”, disse Obama em seu discurso em Acra, lá em Gana. A ONU fala em centenas de milhões de pessoas, define “refugiados climáticos” que deverão fugir de suas terras, precisamente pelo superaquecimento da Terra. A África, que já pagou pesadíssimo no passado, para hoje por coisas das quais não é responsável. Pelo que, prometer à África 20 bilhões de dólares em ajuda é um circunlóquio. Faz quase dez anos que é prometido este dinheiro, mas jamais foi dado. E talvez fosse melhor assim, porque diante da ajuda é sempre preciso dizer: “Socorro! Ajude-os!” Porque os auxílios servem a nós, ao sistema, não aos pobres. Se quiséssemos realmente ajudar a África, deveríamos anular a dívida da África, que gira em torno de 250-300 bilhões de dólares.

Os grandes da terra encontraram de seis a sete mil bilhões de dólares para sanar o Crack financeiro causado pelos banqueiros... Será possível que não encontremos 250 bilhões de dólares para anular a dívida que os pobres pagam com falta de comida, de cuidados, de escolas? Gostaria de recordar que no jubileu de 2000 o nosso país aprovou uma lei na qual a Itália se empenhava em anular sua dívida ante o Sul do mundo. Após quase dez anos ainda não a aplicamos, a não ser em 50%... Sem contar que o nosso país deveria envergonhar-se em falar de ajuda à África quando acolhe os imigrantes que chegam aqui com um pacote de segurança do ministro Maroni que é a expressão de um racismo e de uma xenofobia jamais vistas na Itália.E enfim, se quisermos falar seriamente de auxílio à África, bastaria que deixássemos de investir em armas, para, ao invés, investir em vida.

Gostaria de recordar que no ano passado, segundo os dados Sipri, gastamos no mundo mais de 1,4 trilhão de dólares em armas! Devemos ajudar a África não a entrar no mercado, mas a permanecer o mais que puder ela mesma, com sua “economia informal”. A África vive hoje de economia informal, como sucede, pro exemplo, numa nação como o Congo, onde a economia formal está em pedaços e o povo vive desta economia informal. A África tentou por várias vezes encontrar o próprio caminho no campo econômico, mas sempre foi bloqueada. Uma tentativa foi feita por Julius Nyerere, da Tanzânia, que fez parte da experiência do Ujamaa, com a Declaração de Arusha, que dava origem a um socialismo africano.

Tomás Sankara também tentou um caminho autônomo no campo econômico em Burkina Faso, mas foi morto em 87. Se quisermos ajudar a África, devemos então favorecer uma economia de auto-sustentação, e não para a exportação. Por isso, torna-se importante, se dermos ajuda, que esta seja destinada a potenciar as estruturas internas das nações africanas, com estradas e ferrovias, para permitir que aquilo que a África produz vá alimentar o próprio povo. Se não fizermos isto, não há futuro para a África. Poucos expressaram este conceito tão bem como Serge Latouche em seu livrinho: Entre mundialização e decrescimento. A outra África: “À margem do envelhecimento da África ocidentalizada, existe uma África muito viva.

É a África dos exilados da economia mundial. E da sociedade planetária que continua a viver e a querer viver nadando contra a corrente. Esta outra África não é a da racionalidade econômica. É uma África da “bricolagem” em todos os campos e em todos os níveis, entre o dom e o mercado, entre os rituais oblativos e a mundialização da economia.Depois de haver perdido a batalha econômica, a África perdeu definitivamente a guerra das civilizações? Esta é a grande pergunta. A economia foi vencida, mas a sociedade civil sobreviveu a esta derrota”. É por esta estrada que a África se salvará e salvará também a nós. A África não sairá dos próprios problemas entrando a mãos cheias no mercado mundial. A África deve organizar-se, recolocar-se de pé com uma economia informal, uma economia que sirva aos próprios povos.

Isto é fundamental para a África, mas se tornará fundamental também para nós porque, se a economia e as finanças mundiais continuarem na estrada em que embocaram, significará a destruição do planeta...Se os 6,5 bilhões de pessoas do nosso planeta vivessem como nós, os ricos do planeta necessitarão de 4 planetas terra como recursos, e de 4 planetas terra como descargas onde jogar os nossos detritos. Este nosso sistema econômico não é sustentável. Indo em frente deste modo, as futuras gerações não poderão sobreviver. Auguro que a África encontre uma estrada própria que sirva de exemplo também para nós.

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